terça-feira, 24 de maio de 2011

22ª Semana da Temporada 2011


  
Musicais em Cartaz


Crítica/ Um Violinista no Telhado

José Mayer evoca como Teyve a cultura judaica
Um musical como Um Violinista no Telhado não se enquadra, com muita justeza, à palavra show, como é conhecido o gênero na Broadway e no West End. Não que na música, libreto e coreografia se procure transgredir os postulados do musical, que desde suas origens se mantêm fiéis a alguns cânones, apenas evoluídos ao longo do tempo. Ao lado de exemplares como Hair e as criações de Stephen Sondhein, Um Violinista no Telhado se estrutura sobre  base narrativa com contornos dramáticos. Na versão em cartaz no Oi Casa Grande pode-se constatar que os duetos amorosos, as cenas de impacto visual, o clímax pretendido pelas canções e a coreografia que levanta a platéia, tudo está lá. Portanto, é um musical à moda, sem retoques na cartilha de execução, que se constrói como espetáculo teatral, ligado, sim, a um gênero determinado, mas com alicerces mais fundos do que a exposição (show) de efeitos. Na montagem de Charles Möller e Claudio Botelho, as características teatrais são acentuadas, demonstrando, uma vez mais, rigor de realização da dupla. Baseado na cultura judaica, fixada no microcosmo de uma aldeia russa, no início do século XX, Um Violinista... adota visual  poeticamente reproduzido por Marc Chagall. Os diretores confirmam a capacidade de selecionar  elencos, dos protagonistas às crianças. Acertam ao apostar em José Mayer como Teyve, uma boa voz e presença evocativamente bonachona. Ao ressaltar a limpidez vocal de Soraya Ravenle, que projeta na Golda tantas outras mães judias. E selecionar Ada Chaseliov, como a casamenteira, a trinca de filhas – Malu Rodrigues, Rachel Bennhack e Julia Bernat, os rapazes – Nicola Lama, André Loddi, Cirillo Luna – e os aldeões – Dudu Sandroni, Jitman Vibranovski, Yashar Zambuzzi, Léo Wainer, os tipos marcantes de Marya Bravo e Cristina Pompeo, e os demais integrantes de elenco afinadíssimo. Neste conjunto harmonioso, todos se integram ao coletivo irretocável de atuação, vozes e dança. Os figurinos de Marcelo Pies se destacam, em especial no sonho que Tevye inventa para convencer sua mulher. A iluminação de Paulo César Medeiros atinge, neste mesma cena,  belos efeitos. Apenas o cenário de Rogério Falcão, talvez tenha carregado no tom sombrio e no peso de alguns elementos. A supervisão musical de Claudio Botelho, a direção e regência de Marcelo Castro e a orquestra merecem registro pelo alto nível de execução da trilha. Uma sonoridade encorpada de espetáculo que se realiza, plenamente, no palco.        


Crítica/ Baby – O Musical

Casais cantam a espera de usar alfinetes de fralda
O cartaz de Baby – O Musical, em cena no Teatro João Caetano, reproduz um alfinete de fralda sobre o titulo em preto. A cortina que encobre o proscênio é feita de milhares desses alfinetes, anuncia voz em off, um pouco antes do início do espetáculo. A onipresença desse objeto caracteriza, à perfeição, essa comédia musical. Como os alfinetes de fralda, praticamente desaparecidos com o advento das fraldas descartáveis, Baby se revela tão anacrônico e ultrapassado quanto aquele acessório. Musical da Broadway dos anos 80, até pode ter obtido alguma repercussão naquela época. Hoje, as historinhas de três casais, de idades e estágios de convivência diferentes, ora se descobrindo grávidos, ora tentando engravidar, têm interesse bastante  restrito. Os percalços da espera, a insegurança do futuro e as perdas no caminho se distribuem pelos casais em lento e previsível desenvolvimento das pequenas tramas. Ainda que esses problemas se limitassem a tão rala dramática, afinal, para alguns, musicais não precisam de maiores entrechos e são tão somente exibições de técnica vocal e espetaculosidade visual, há que considerar como prioritária a trilha musical. E também neste aspecto, Baby é pouco inspirado. Anódinas, com letras tão corriqueiras quanto a trama, sem qualquer canção destacável, as músicas se sucedem em ritmo ralentado, o mesmo com que os casais desenrolam suas sonolentas inquietações. A importação do diretor americano Fred Hanson pouco colaborou para dar maior vida cênica ao que está, irremediavelmente, superado. Não se percebe qualquer marca autoral na direção. A equipe técnica e artística cumpre sua participação com profissional eficiência. Do elenco – Sylvia Massari, Tadeu Aguiar, Amanda Acosta, André Dias, Daíra Sabóia e Olavo Carvalheiro -, ao coro, orquestra, figurinistas, cenógrafos e iluminador   


 O Que Há (de melhor) Para Ver
 Oxigênio - As dez cenas deste texto do russo Ivan Viripaev não apontam caminhos para o teatro, mas se propõem a discuti-los através de várias dissonâncias de seus modos e meios. Com a frontalidade de um show de música e o distanciamento de uma narrativa expositiva, a montagem, instigante e provocativa, perambula pelos atalhos sombrios da contemporaneidade. Áspera, rascante e desconcertante a direção de Márcio Abreu, da Companhia Brasileira de Teatro de Curitiba, captura o choque  de dispersões existenciais. Mezanino do Espaço Sesc.
Fotogramas teatrais de vivências cotidianas
Nunca Falei Que Seria Fácil – Vivências do cotidiano – crianças que não querem abandonar a chupeta, casais em desavença, solidão em estado de beligerância com o mundo – se manifestam como sentimentos  de ternas observações sobre a rotina dos afetos em texto que explora, numa ciranda de situações, impressões emocionais. O trio de atores imprime pulsação e vigor à cena, em prolongamento de uma escrita articulada com sensível linguagem exploratória das possibilidades narrativas do teatro. Espaço Cultural Sérgio Porto.      
                                                  macksenr@gmail.com